Arquivo mensal: agosto 2017
perguntas & respostas
- Por que você não publica mais desenhos aqui?
- Porque eu não desenho mais.
- Por que você não desenha mais?
- Porque não tenho mais vontade de desenhar.
- Por que você não tem vontade de desenhar?
- …
- Por que você não escreve mais textos, então?
- …
- E as tiras, parou de desenhar?
- Sim.
- E não vai voltar a desenhá-las?
- …
- FIM
Uma especulação sobre J.D. Salinger
E se as pessoas foram até os cofres de J. D. Salinger e encontraram, ao invés de livros e mais livros que ele disse que passou a vida escrevendo, apenas pilhas de cadernos com os mesmos dizerem esquizofrênicos de Joe Gould ou algo assim?
Em O Segredo de Joe Gould, o jornalista Joseph Mitchel, encantado com a figura de um mendigo literário que habitava o Greenwich Village, escreveu um longo texto sobre a curiosa figura que se dizia um escritor e que estava trabalhando na grande obra de sua vida: A História Oral. O artigo foi publicado no Village Vanguard ou The New Yorker, não lembro ao certo.
Bem, a História Oral seria composta de relatos e fofocas que Gould teria ouvido de sub-celebridades que frequentavam os bares e festas do moderno bairro de NY. Segundo Gould, ele anotava tudo o que ouvia de artistas, jornalistas e intelectuais e aquele seria o documento de uma Era. No entanto, passaram-se anos e A História Oral nunca ficava pronta.
Joseph Mitchell foi atrás e descobriu que esse livro nunca existiu, que os cadernos que Joe Gould levava para cima e para baixo dentro de mochilas e sacos de pano, não tinham nada, exceto as mesmas duas frases -que também não lembro qual era, por isso é bom você ler o livro- repetidas com uma ou outra palavra trocada. Mitchell indignou-se e escreveu uma nova história, desvendando a fraude que ele mesmo ajudou a alimentar – literalmente, uma vez que sempre pagava um rango para o mendigão esperto. Os dois textos de Mitchell viraram O Segredo de Joe Gould.
Segundo o desejo de Salinger, os livros só poderiam ser publicados a partir de 2014. Já se passaram quase três anos e nenhuma notícia desses livros do recluso escritor. O que aconteceu? Cadê o livros? Qual editora irá publicá-los? Será que estão segurando o livro por problemas judiciais? Será que os livros são uma merda? Como acabou a vida da família Glass? E Holden Caulfield, realmente cresceu e se tornou John Lennon?
Ou tudo o que descobriram eram cadernos com a frase “trabalho sem tesão faz de J.D. Salinger um bobão”?
Benett
Distill the life thats inside me
Segundas-feiras têm justificado a fama de serem insuportáveis, talvez não tanto quanto as terças, certamente menos que as quintas, mas nunca tão ruins quanto as noites de domingo, as tardes de sábado e as manhãs de sexta-feira.
Estou lendo O Vendido, de Paul Beatty. Sinto vontade de abraçar esse cara. Assim como sinto vontade de abraçar Gary Clark Jr. O Vendido é para ler ouvindo Gary Clark Jr., especialmente The Story of Sonny Boy Slim.
Mas o quero mesmo é algo como Agarre a vida, de Saul Bellow. Sinto-me como Tommy Wilhelm a essa altura da vida. Bem, acho que me sinto como ele desde meus 16 anos. Por falar em vida pensei em algumas certezas que você precisa ter para seguir adiante:
1- Você não será feliz – ao menos não totalmente;
2- Você não ficará rico – muito rico eu quero dizer-, ao menos não nesse país;
3- Você será esquecido completamente logo após abotoar o paletó – ou seja, é impossível lutar contra a morte e o esquecimento.
Dito isso, é só seguir em frente, conhecer pessoas originais e divertidas, viajar, fazer sexo com regularidade e ouvir Church, de Gary Clark Jr., tomando uma garrafa de vinho e pensando em como a arte pode salvar um dia. Ou uma vida.
Benett