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Near wild heaven

Parece agora que Fenshawe sempre existiu. É assim que Auster começa a terceira história de sua trilogia de Nova York. Esse frase ficou na minha cabeça e tenho pensado nela todos os dias. Parece que Fenshawe sempre existiu. Parece que sempre existi, mas a verdade é que não tenho certeza disso. Para mim, talvez eu nunca tenha existido realmente. Outro dia ouvi Nelson Rodrigues contando que Otto Lara Resende lhe disse que o homem é triste porque morre. Nelson disse que o homem é triste porque vive. Eu acho que o homem é triste  porque é homem. Porque sabe que vai morrer e porque sabe que existir não é a mesma coisa que ser feliz. As vezes o homem é triste porque tem que ler frases como essas.

Cortei meu próprio cabelo outra vez e, outra vez, estou com vergonha de sair na rua sem uma burca. Porque não ficaram “caminhos de rato” pela cabeça toda. São verdadeiras autopistas de ratazanas do tamanho de jacas pela cabeça. Preciso de um gorrinho igual ao do Wally, de Onde está Wally?. Por falar em Wally, adoro um cartum que mostra Waldo (o verdadeiro nome de Wally) bebendo deprimido no balcão de um bar e se lamuriando para um desconhecido. “Todo mundo pergunta ‘onde está Waldo’. Ninguém pergunta ‘COMO está Waldo'”.  Como eu luto para conseguir criar um cartum desses. Aliás, Waldo tem esse nome por causa de Ralph Waldo Emerson? Nunca li Ralph Waldo Emerson.

Mas Paul Auster tem me fascinado da mesma maneira que Saul Bellow, talvez porque tenham um estilo meio parecido. A história que Black conta para Blue, no segundo texto do livro, sobre Walt Whitman, é de morrer de rir, apesar de trágica – ele consegue fazer uma analogia entre um cérebro e um penico cheio. Fenshawe se encaixou incrivelmente na minha própria história. Também tinha um amigo de infância muito próximo e que depois se distanciou. No entanto, quando estávamos recuperando nossa convivência, ele morreu de forma repentina e trágica. Um dos seus livros favoritos era justo A Trilogia de Nova York. Ele sempre me falava de Paul Auster, eu tinha o livro, mas só estou lendo agora. E  agora parece agora que Paul Auster sempre existiu. (Benett)

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